sexta-feira, 29 de abril de 2011

fogo pagou

"Fogo pagou..tem dó de mim
o menino matou a rolinha
torrou a bichinha, comeu com farinha...gostou
Fogo pagou!”


Da vida sertaneja nada faltou no cantar de Luiz Gonzaga. “Fogo pagou” é mais uma das suas, que faz do lamento do povo o canto de um lugar:
“Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar
Mas se disso tirar bom proveito sorrir satisfeito fingindo chorar."


Pio IX cantou “fogo pagou” pra aperrear uma “bichinha” que nem pena tinha. E se é digna de pena nem sei. O certo é que Ritinha (foto) sabia que não era rolinha, mas tinha talvez medo que a comessem com farinha... ou não... besteira minha! Ritinha é só doida e pronto!
Mas e a loucura o que é? Diz Ana Carolina que “a loucura não existe/ a loucura esta em todos os lugares ao mesmo tempo/ Normal é o tédio dos dias sem graça/ que as pessoas fazem pra elas mesmas.” Ritinha não suportou o inexpressivo cotidiano da vida, dos dias sem graça, e inventou uma linguagem que desse vazão ao abstrato próprio da existência – da sua existência!




“a verdade da loucura é ser interior à razão, ser uma de suas figuras, uma força e como que uma necessidade momentânea a fim de melhor certificar-se de si mesma”.(Foucault, 1997: 36).





Leitura Poética:

na primeira janela
josé celso martinez correa de saia
em outra
um dedo para o alto
um dedo anelado
um sorriso envergonhado
há rugas no caminho da pele
há cárie no dente solitário
na janela aberta um corpo
um rosto
um sorriso
a arte de viver segue o risco
o claro-escuro
o beco
o reboco cai em tom seco
tudo é sertão e árido
o cabelo é branco
o sorriso é manso e sereno
sábio
o close é raro
intui-se uma história sendo contada
a vida revirada revolta como cabelo assanhado
e uma unha saindo do relevo da sala

Por Otacílio Batista Nétto


Abaixo foto de uma Columbina squammata - "fogo-apagou", nome (onomatopéico) que traduz o canto desta ave, um dos sons mais ouvidos na caatinga, abominado por Ritinha.





3 comentários:

  1. na primeira janela
    josé celso martinez correa de saia
    em outra
    um dedo para o alto
    um dedo anelado
    um sorriso envergonhado
    há rugas no caminho da pele
    há cárie no dente solitário
    na janela aberta um corpo
    um rosto
    um sorriso
    a arte de viver segue o risco
    o claro-escuro
    o beco
    o reboco cai em tom seco
    tudo é sertão e árido
    o cabelo é branco
    o sorriso é manso e sereno
    sábio
    o close é raro
    intui-se uma história sendo contada
    a vida revirada revolta como cabelo assanhado
    e uma unha saindo do relevo da sala

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  2. O que ainda se pode dizer de suas fotos, Rosa?

    Essa série de fotos de Ritinha me tirou a voz, por pouco me tira o fôlego. Então, antes que disto eu morra, me calo, nada digo e apena sinto...

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  3. Marquito, fiz as fotos num mês de maio, e o papo aí era sobre cobras. Todas as aparições foram narradas...Dá vontade de chorar mesmo, e não é de pena...é de...sei lá! Talvez sejam essas sensações que o José Celso Martinez Corrêa quer arrancar da platéia. Pra que deixemos de ser sempre platéia...e SEJAMOS, simplesmente!

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