segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Macaco-prego (Cebus libidinosus)





















Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? 

Afinal, viemos ou não viemos dos macacos? 



Não venho aqui com argumentos científicos nem com a intenção de tratar da origem das espécies. Apenas um dia desses, no mês de julho do ano de 2014, senti um prego bater na minha mão, e senti sua dor rasgando a minha carne!



Essa é a residência do Dário e da Josefina, lá no Mercador-Pio IX-PI. Vendo a foto assim, sugere-se que eu esteja muito a vontade nesse cumprimento caloroso.

Ao ser abordada na porta da casa, segurei a mão desse indivíduo e fiz boa vizinhança, mas certa de que se tivemos um ancestral em comum, isso não contaria num tête-a-tête. Possíveis ataques-defesas poderiam surpreender a minha pessoa demasiadamente humana. 

Dito e feito, com seus afiados dentes ele me mordeu! E mordeu mais uma meia dúzia de humanos demasiadamente humanos.

Mas essa história levou alguns meses para ser escrita.

Ouvi os proprietários da casa contarem: - Um dia chegamos da feira e a casa tava revirada. O teto destelhado, o liquidificador fedendo a queimado, e os depósitos de mantimentos mordidos e destampados. "Demo dicumer a esse bicho infeliz desde o dia que chegou aqui, mas se num levarem ele, num sei não!" 

A ameaça estava declarada! Dar abrigo a um macaco não é tarefa fácil! Tanto não é que o destino dessa criaturinha foi jogado numa roleta, onde todos perderam suas apostas.






















Não foi difícil convencer o inocente a entrar na jaula, que já lhe parecia familiar. E pude indagar sobre a sua origem, enquanto o levava para o polo universitário onde trabalho.

"Os macacos-pregos são animais primariamente arborícolas, mas são muito adaptáveis e oportunistas, e podem viver em ambientes extremamente perturbados pelo homem, sendo encontrados, inclusive, em ambientes altamente industrializados e urbanizados. Ocorrem no continente sul-americano, e duas espécies são endêmicas do Brasil. São encontrados desde a bacia Amazônica até o sul do Paraguai e norte da Argentina e por todo o Brasil. Por esses territórios, habita uma ampla variedade de formações vegetais, desde as florestas úmidas da Amazônia e Mata Atlântica, até áreas mais secas, como a Caatinga e o Cerrado, assim como o Pantanal, e o Chaco seco na Bolívia e Paraguai" http://pt.wikipedia.org/wiki/Sapajus.

Sempre tivemos notícias de bandos nos interiores de Pio IX-PI, desafiando as plantações de caju. Muito hábil com as mãos, eles quebram as castanhas usando pedras e pedaços de pau, irritando os plantadores pelo prejuízo na lavoura.






















Usurpado da natureza, esse preguinho das fotos foi criado domesticamente, e depois dispensado do convívio de uma, duas, três famílias de humanos. Até ser jogado na mata seca, sem nenhum processo de reeducação. Assim passou a incomodar os moradores, invadindo as residências das localidades de Mercador, Boqueirão, Vertentes etc, no município de Pio IX.

Foi nesse contexto que o encontrei. Achando ser simples o contato com os órgãos responsáveis pela preservação ambiental no Piauí, e com o intuito de garantir-lhe um lugar seguro, fiquei com essa adorável criatura por mais de três meses, aguardando o resgate. 























Sofri com sua carência, seu desejo de colo, sua vontade de ser livre. Observei seus desejos e necessidades, suas intenções e preferências, sua capacidade de sofrer e sentir prazer. Sua traquinagem, sua auto-defesa, sua genialidade, sua bagunça e destruição. Fui apedrejada, mordida, me vacinei, senti medo! Tomei chuva ao seu lado pra não deixá-lo só, me irritei, perdi sono, chorei, sorri...





Até que finalmente o Ibama chegou para fazer aquilo que eu sempre soube ser inadequado: soltá-lo na natureza. 
Sem o acompanhamento de um especialista, para seguir toda a complexidade técnica e científica necessária para esta reintrodução, o macaco foi levado para a cidade de Guadalupe-PI, onde há ilhas formadas pelo lago da Usina Hidrelétrica da Boa Esperança. 
Nunca saberemos seu fim, mas estará lutando entre os seus para sobreviver.

4 comentários:

  1. Um trabalho de informação, sendo assim, educando e mostrando caminho. Lindo trabalho, inclusive o literário.

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  2. que triste fim do macaco espero q esteja bem.
    criar macaco é um trabalho herculano, vc fez o melhor q pode

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  3. Olá, sou estudante de biologia e gostaria de usar suas fotos em um trabalho! Como devo citar seu nome como proprietária das fatos?

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