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MINA DE MÁRMORE – FAZENDA QUIXABA – REGIÃO LESTE DO MUNICÍPIO DE PIO
IX-PI, extremando com a região sul do Ceará. Localizada à extremidade
ocidental da unidade geomorfológica da Chapada do Araripe. Dentro da Área de Proteção
Ambiental - APA.
O município de
Pio IX é dotado de potencial geológico no que se refere a mineração para
construção civil – calcário e rochas ornamentais. As publicações com detalhamento dos
jazimentos minerais, no que se refere a viabilidade técnica, econômica e
ambiental, são escassas. Poucos trabalhos científicos abordam sua aptidão para
aplicação na construção civil, na fabricação de cimento, fertilizantes,
cerâmica etc. Mas embora não tenha sido medido e/ou socializado, o potencial aparente
da “Mina de Mármore” de Pio IX é de grandes dimensões, representando as rochas
ornamentais e materiais de revestimento mais importantes do estado do Piauí, capazes
de receber polimento e resultar numa variedade de cores e texturas, que as
tornam rentáveis na indústria.
Entretanto ao
longo dos anos vem sendo desperdiçadas as potencialidades do setor, regra geral
com empresas privadas ocasionando a inutilização de blocos de mármore extraídos
sem cuidados necessários à sobrevivência do material. Verificam-se problemas
como erosões, desmoronamentos, alteração e diminuição das áreas de vegetação,
assoreamentos, entulhamentos, etc.
Localizada na
Fazenda Quixaba e no povoado Sobrado, o último grupo empresarial a explorar a
jazida de mármore foi o Granistone, do Ceará. O proprietário da Granistone,
Júlio Sarmento, disse em matéria publicada do dia 27/12/2004 que já havia
investido R$ 4 milhões na mina de mármore de Pio IX e pretendia investir mais
R$ 15 milhões. Ele disse também que desde 1991, compra o mármore de Pio IX e
descobriu que o rejeito do produto poderia ser mais bem aproveitado, o que
seria feito ao instalar sua mineradora no local.
Não se sabe ao
certo quais os resultados das pesquisas feitas pelo grupo, suas referências
sobre valor de mercado, e nem temos respostas sobre as tramitações de projetos
junto a organismos financiadores. Porém o que se tem de testemunho, desde a
FLACOL (BA – década de 80) até a Granistone (CE – década atual), é o uso
indiscriminado da matéria prima, sem bônus positivo para o município.
A população
não sabe sequer como são feitas as CONCESSÕES DE LAVRA. Segundo publicações no
Diário Oficial foi a FLACOL a empresa que concedeu prévia anuência ao ato de
Cessão e autorizou averbação da transferência da Concessão de Lavra a
GRANISTONE S/A. E temos notícias que a Granistone em 2007 lançou no EUA o granito chamado
CAPLAVOURO eleito o mais bonito do ano, de uma jazida localizada nesse exato município de Pio IX, na fazenda Quixaba.
Enfim a “Mina
de Mármore” de Pio IX sempre foi e continua sendo uma questão polemizada entre
os moradores do município. A apropriação de tais recursos, sempre motivadas por
interesses particulares, contrária aos interesses públicos, sempre incitou uma
problemática de caráter social. E os questionamentos continuam seguindo a mesma
lógica social:
• Como a população se insere ou é inserida na
dinâmica do miralnegócio?
• Quais os impactos sociais da extração
mineral em torno dos aspectos econômicos, sociais, ambientais e institucionais?
• Qual a viabilidade de implementação do
projeto de aproveitamento econômico da jazida pelos grupos privados, dentro da
perspectiva do desenvolvimento sustentável e da legislação ambiental?
• O mineralnegócio tem criado oportunidade de
crescimento e desenvolvimento para o município e para a sociedade ou apenas
legam o ônus do esgotamento mineral, da devastação ambiental e das doenças
ocupacionais?
·
Quais os impactos sobre a identidade
paisagística da região?
Enfim, considerando
que são as necessidades sociais que tornam os elementos naturais em bens
econômicos, a preocupação de alguns membros da população está focada na
realidade da região das minas, a fim de resolver problemas concretos com o
objetivo de contribuir para a sobrevivência dos moradores da região.
Se os gestores
municipais e do Estado buscassem desenvolver um trabalho embasado na demanda
social, se revelaria algumas soluções possíveis para alguns aspectos de ordem
social e econômica, visando promover a cidadania através da valorização e
resgate social de pessoas em estado de vulnerabilidade, preparando moradores da
região das minas para o mercado, assegurando uma perspectiva de renda a partir
do artesanato em mármore e granito, por exemplo.
O governo do
Estado poderia desenvolver e apoiar um empreendimento associativista, que se
dedicasse a uma atividade baseada na produção sustentável, em suas dimensões
econômica, social e ambiental. Isso mitigaria os problemas gerados em mais de
quarenta anos de exploração aleatória, e traria como resultado imediato, a
geração e complementação de renda para a uma população extremamente carente e
que vive numa das regiões mais áridas do estado do Piauí.
VEGETAÇÃO DA REGIÃO DAS MINAS
A região das
Minas no município de Pio IX restringe-se ao Semiárido do Piauí. Espaço
geográfico formado por rochas cristalinas, relevo ondulado, solos pouco
espessos, clima seco e poucos cursos d’água perenes. Não é preciso ter muito
conhecimento da geodiversidade dessa região para identificar as aptidões e
restrições de uso do seu meio físico, bem como os impactos advindos de seu uso
inadequado.
De vegetação
arbustivo-arbórea, e raramente arbórea, adaptadas para conter os efeitos de uma
evaporização intensa, a paisagem do semiárido é representada por diversas
espécies de cactáceas: mandacarus, coroas-de-frade, facheiros, xique-xiques
etc., que mantem o verde mesmo nos períodos de crises climáticas, quando a mata
mostra-se totalmente cinza, perdendo o verde exuberante dos tempos chuvosos, e
guardando sua flora para um novo e certo rebrotar.
Área agricolamente
pouco propícia, e/ou com restrições à instalação de atividades nesse campo, as
matérias primas da mina poderiam contornar certas questões, agregando valores à
região, acarretando transformação da riqueza local em melhor qualidade de vida
para a população e para o município.
A FÁBRICA DE CIMENTO ITAPISSUMA e OS MORADORES DA REGIÃO DAS MINAS
Os moradores
da região das minas – localidades de Coroatá, Quixaba, Sobrado, Pau-Ferro e outras - nascidos e criados na roça, plantando
milho e feijão para sobrevivência, são atualmente em grande parte funcionários
da Fábrica de Cimento Itapissuma, do Grupo João Santos, que explora o calcário da
região. Com previsão de esgotamento da matéria prima para até um século à
frente, a fábrica é uma faca de dois gumes. Ao tempo que oferece renda fixa, o
trabalho expõe os habitantes à inalação constante de substâncias tóxicas de
graves riscos à saúde, gerando grande desconforto respiratório e tornando todo
o ambiente insalubre. Além disso, as áreas de empréstimo de terra usadas para a
extração do minério e fabricação do cimento comprovam a rapidez da degradação
da vegetação original.
No entanto é dessa renda que se vale a
população local, e é o que minimiza a famosa “diáspora” dos nordestinos, que atravessam
os períodos de estiagem prolongada, essencialmente à custa dos programas
federais (Bolsa Família, Seguro Safra, e das Operações Carro-Pipa, coordenada
pela Defesa Civil e pelo Exército).
Mesmo a água
dos poços artesianos é uma incógnita para o catingueiro dessas localidades. Perfurados em áreas sedimentares ou em
terrenos cristalofilianos, mesmo quando raramente dotados de uma vazão razoável,
os poços apresentam águas salobras, com salinidade total, de difícil ou quase
impossível aproveitamento para uso particular ou público. O uso de
dessalinizadores (instalados) não tem viabilizado o seu aproveitamento, sem
explicação apropriada para esta pesquisa.
ALTERNATIVAS DE RENDA NA LOCALIDADE DE PAU FERRO – TRANÇADOS EM FIBRAS VEGETAIS DE CAROÁ - ARTE SECULAR.
Dona Doca
VEREDA ADENTRO - uma dessas histórias de amor; Retrato de uma das formas inteligentes de sobrevivência do povo do semi-árido.
Quando comecei
a indagar o pessoal nascido em Pio IX, sobre suas formas de sobrevivência - da
década de 20 a década de 50 - encontrei de um extremo ao outro do município uma
atividade comum, que auxiliava na renda familiar. E passei a seguir essas
marcas. Foi aí que na curva dessa vereda avistei um ‘Sobrado’, e depois do Sobrado o ‘Pau-ferro’.
No Pau-ferro o
povo não fala, canta! Dá a impressão de que saímos de território piononense,
pela estranheza lingüística do lugar, que fica há 20 km da cidade.
Com as lentes
fotográficas fazendo esse intermédio passei a dialogar com esse universo. E
pude observar que, por todos os cantos e recantos que eu passava, sempre
encontrava alguém usando um patuá de caroá - seja um pescador, seja um caçador,
e principalmente o homem da roça. Lembrei que na despensa do meu pai tem um
pendurado. Essa era definitivamente uma expressão entrançada na vida dos
habitantes dessas paragens.
Buscando
descobrir onde ainda se fazia aquilo nos dias de hoje é que cheguei ao Pau
Ferro; e atenta a fala cantada daquela gente descobri a importância dos
trançados na história de sobrevivência do meu povo.
“- As trança era o pão da gente. Foi
o que nos ajudou a botar
comida em casa. Quem não fazia passava precisão.”
(Raimunda Ana de Jesus Carvalho – Doca/ nascida em 1949)
comida em casa. Quem não fazia passava precisão.”
(Raimunda Ana de Jesus Carvalho – Doca/ nascida em 1949)
Importância
essa que se encontra amordaçada pelo preconceito, fruto da desvalorização do
ofício. Nunca encontrei uma tranceira que não vibrasse de emoção ao falar da
arte. Seus filhos (filhas), no entanto
expõem uma insatisfação (talvez não descabida) diante do assunto. Alguns deles
desempregados, outros trabalhadores (as) da roça (às vezes em terras alheias).
Uns poucos, funcionários da fábrica de cimento. Uma das filhas de Antônia Joana
de Morais (Tuninha/64 anos) reclama a dureza dos espinhos do caroá que fere as
mãos da sua mãe. Ninguém menciona as doenças crônicas pulmonares de caráter
irreversível e progressivo que assolam os moradores daquela região, provocadas
pelo amianto.
Um dia
visitando a fábrica, assisti um funcionário (com salário em dia, é claro!)
aparando os sacos de cimento que desciam por uma espécie de tobogã e
transportando para dentro da carroceria do caminhão. O peso do saco tombava na
cabeça do indivíduo e o cobria com uma nuvem cinza; senti náuseas ao assistir
aquele veneno invadindo as narinas do cidadão. Eu me perguntava então, quais os
ossos desse ofício que aliviam o peso dos tiradores de caroá? Não foi difícil
de responder, a fábrica representa renda certa no final do mês!
“- Antigamente nós era obrigada a
fazer para comprar o pão pra comer,
pois não tinha outro mei de vida. A
primeira chinela que eu comprei
pra mim foi com um jogo de surrão que
vendi por dez tões.
Comprei uma roupa, um chinelo, e fui
à pé passar o natal em Pio IX.
Lá ainda comprei um saco de coisas e
vim com ele na cabeça.
Os pai num botava os fie na escola
purque num pudia,
então butava nós pra aprender a fazer
trança.”
Pois é,
atualmente, em pleno século XXI, seria impossível sobreviver fazendo trança de
caroá! Embora o que pareça mesmo impossível é dar um "delete" em uma arte que resiste a séculos, disseminada não apenas no imaginário do nosso povo,
mas "plantada" na sua realidade cotidiana. O trançado de fibras de caroá ainda respira a sua importância - em focos isolados é verdade - mas bem vivo, resistindo
bravamente.
Obs: Esse saco chamado bornó (embornal) ou patuá tem vida longa, não se desmancha com facilidade, e pode com carga pesada. Principal artigo vendido na atualidade por Doca (do Pau Ferro). Já os surrões (sacos de guardar feijão - abaixo) perderam definitivamente sua utilidade, substituídos por tubos de zinco, e por garrafas pet.
Obs: Antigamente as crianças usavam os surrões nas suas brincadeiras de esconde-esconde.
FAZENDA ALECRIM – PI (Divisa do Piauí com o Ceará)
Casa de Bárbara de Alencar
Considerada por historiadores como a Primeira Presidenta do Brasil, a heroína Bárbara Pereira de Alencar, morreu aos 72 anos (depois de várias peregrinações em fuga da perseguição política) na Fazenda Alecrim, no hoje município piauiense de Fronteiras, nessa dita região "das minas". Foi sepultada no interior da pequena igreja de Nossa Senhora do Rosário, no distrito de Itaguá, a 10 quilômetros da sede de Campos Sales, Ceará (antigo Poço Pedras). http://osrascunhos.blogspot.com.br/2011/01/artigo-barbara-de-alencar-primeira.html
Rosa,
ResponderExcluirExcelente postagem! queria acrescentar algumas informações: A atual situação de paralisação da exploração do mármore em Pio IX é resultante da forma como ela foi inicialmente começada na década de 60/70 como a utilização de explosivos o que ocasionou a formação de muitas fendas nas rochas com a consequente diminuição do aproveitamento das peças (e encarecimento do processo de exploração). Embora a maioria da população só conheça o mármore branco, muitos profissionais informam que lá existem mármore de diversas cores e tonalidades, uma verdadeira riqueza. É claro que o abandono do local também tá muito ligado a questão do envolvimento da população (cultural mesmo). O potencial mineral daquela região vai muito além da simples exploração do mármore. Uma pequena fábrica instalada na comunidade Sobrado, tocada pelo Sr. Zé Neto, dá um pequeno indicativo do potencial de aproveitamento dos restos de materiais (sugiro que Rosa da Caatinga faça algumas fotos lá). Há também nas cavernas da Quixaba um verdadeiro patrimônio arqueológico, com pinturas rupestres pouco conhecidas e bastante degradadas pela atividade humana. A instalação do IFPI em Pio IX pode dar uma grande contribuição para o aproveitamento das nossas potencialidades minerais, com a implantação de algum curso voltado para essa área. Para a região de Pau Ferro e Sobrado, que tem muitas limitações de qualidade e quantidade das terras disponíveis para as famílias, a mineração e outras artes vinculadas a ela (artesanato com aproveitamento das sobras de material) e até mesmo o turismo podem ser alternativas para o desenvolvimento local. Mas a grande transformação que tem que haver é o envolvimento cultural das pesssoas, sinto pouco envolvimento "cultural" da nossa população com algumas atividades extremamente importantes para o município. Usamos pouco nossas rochas ornamentais nas nossas construções (devemos ter 80 metros de calçamento com sobras de mármore), sejam particulares ou públicas. Assim como no caso do caju, produzimos e exportamos quase tudo, não cultuamos a sua produção, não consumimos a maioria dos seus produtos.
Atualmente a empresa Granistone S.A. explora apenas o granito nas proximidades das localidades Sobrado e Cadoz.
A sua descrição sobre alguns traços culturais da população de Pau Ferro e Sobrado, com observações que tenho feito pelos muitos contatos que tenho tido ultimamente, me dão a impressão que ali temos algum tipo de comunidade tradicional, ou quilombola, ou quem sabe até indígena.
Valeu, Rosa!
PG Alencar
O Edwar Castelo Branco, a Tailandia Melo e a Ruth Bezerra, juntamente comigo Edson Alencar, na década de 80, travamos uma luta contra essa explaração desordenada e sem técnica do Mármore de Pio IX, inclusive, denunciamos o contrabando junto a Assembléia Legislativa do Piauí, capitaneado pelo saudoso Deputado Deoclécio Danta. Fomos até processados criminalmente e o nosso Jornal "O Xique-Xique" foi retirado de circulação. Tenho tudo guardado.
ResponderExcluirPOSSO PEGAR UMAS PEDRAS E CONSTRUIR UMA CASA AI EM PIOIX
ResponderExcluirADORARIA MORAR EM UMA CASA DE PEDRA
ResponderExcluirMORO EM SALVADOR ,MAS SOU DE MACAMBIRA UM SITO DE MEU PAI ,A CASA JA CAIU MEUS PAIS JA MORRERAM,PENSO EM MORAR EM PIOIX QUANDO ME APOSENTAR, E COMO TEM MUITAS PEDRAS DE MARMORES SEM UTILIDADE ECONOMICA ,SERA SE POSSO CONSTRUIR UMA CAZINHA DE PEDRA DE MARMORE.
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