terça-feira, 19 de julho de 2011

sábia criação

Prefiro a minha terra sem palmeiras
onde o sabiá canta
no quintal da minha casa
no galho da goiabeira


Era uma vez...
No quintal de um velho  rabugento que gostava de cultivar árvores, um serzinho de cor parda e enferrujada. 
Cansado da difícil cata de alimentos na mata seca, o SABIÁ resolveu passar uma temporada naquela vida...


Comida fácil com cardápio variado


Mas não pensem que ali era propriedade privada dessa sábia criatura. Era preciso disputar o manjar com cobras e lagartos. Isso às vezes gerava um certo stress. E, de vez em quando era preciso ousar sentar na mesma mesa com seus concorrentes.


Mas bom mesmo era aquela piscina limpa, cheia, pronta para um mergulho seguro.



Aquele quintal lhe pareceu perfeito, principalmente quando percebeu ali, a espera, a sua cara metade.


Logo começaram juntos a construir o ninho para gerar a nova família



No dia 15 de janeiro nasceu o primeiro rebento


Não sei se a fome era tanta ou a paciência era pouca



Mas lá estava a mamãe com a minhoca no ponto... na ponta (do bico).


Depois que os três nasceram pequenas porções não mais satisfaziam


E às vezes a comida era tanta, que uma velha fotógrafa que por ali passava, inexperiente com a cria, não se conteve em puxar da boca do filhote aquela cobrinha exageradamente nutritiva.


Depois de barriga cheia o sono parecia dos anjos


E o tempo passou


E as penas cresceram


Na região do ventre começa a se destacar a coloração vermelho-ferrugem


Esse ninho já não me cabe mais. Vou aproveitar que meus irmãozinhos estão dormindo pra dar o fora. Não quero deixá-los tristes, mas tenho que partir, preciso ensaiar meus voos. 

- Ei, nosso irmão mais velho já se mandou!

- Ops! Parece que fiquei sozinho.

- Ai que solidão!

- Não sei se vou... ai ai ai, pena de deixar meu seguro ninho.

- Vou dar um pulinho no galho dessa árvore.


- Êpa! O mundo de gente grande é bom...vou voar por aí!




E assim a vida adulta chegou, para recomeçar um novo ciclo.


Publicação em outro site: http://www.fnt.org.br/ensaios.php?id=383
Sugestão de música:



COMO E PORQUE ME TORNEI A ROSA DA CAATINGA
Colecionando Figurinhas

Comecei minha coleção de figurinhas quando ainda menina (década de 80). Meus irmãos sempre me davam uma câmera descartável que recebiam no ato das revelações. Love! Era esse o nome da criatura. Talvez isso explique esse meu caso de Amor com a fotografia.
A Lulu (uma amiga de infância) me fez lembrar, outro dia, que saíamos, às vezes, fotografando a torto e a direito, pra só no final descobrirmos que não havia mais vaga no filme. Já nesse tempo o envolvimento com o fotografado se confundia com o desejo da fotografia. É claro que ainda não havia escolhido com quem casaria, mas os seres da caatinga já me assediavam.
Tempos depois me perguntaram o que era mais importante pra mim, se o ato de fotografar e a imagem adquirida, ou se os seres fotografados. Interpretei que a pergunta era “você é capaz de ameaçar a vida de um ser da caatinga em busca de boa imagem?” De súbito eu não soube responder. É tão compulsiva a trama fotográfica, que confesso já me levou a sacrificar alguns seres. Pra que eu fizesse a infância e adolescência dos sabiás com uma câmera compacta, por exemplo, incomodei ao extremo os bichinhos. Puxei uma cobrinha da boca de um filhote porque achei que a mãe havia exagerado na porção, quebrei alguns galhinhos da árvore pra facilitar um pouco minha visão, provoquei a morte de um filhote porque decidi trazê-lo pra passar um temporal dentro de casa, e por aí vai. Bom, é verdade que em contrapartida levei uns rasantes na cabeça da mamãe sabiá, que passou a me odiar. Levei bronca do velho e rabugento meu pai, por essa dedicada estupidez de fotógrafa que não respeita o resguardo de uma mãe, etc.
Tudo isso pode até levar a crer que a fotografia esteja acima dos fotografados. Porém mesmo sem querer falar de intenções, devo dizer que os efeitos da minha fotografia – coleção de figurinhas - têm sido muito mais benéficos do que maléficos. Na pior das hipóteses tem interferido no olhar sobre o valor estético da caatinga. Ver as crianças disputarem cada número da série de postais que a prefeitura distribuía num evento de idosos, me fez crer que nem só de Power Ranger vivem as criancinhas.
Mas o que realmente sei da importância desse trabalho é que, toda compulsão desaparece quando esses seres – da caatinga – saem do meu campo visual. Sou incapaz de dar um clic sequer diante das mais extraordinárias paisagens. Talvez a paixão esteja além da fotografia e dos seres fotografados. A minha fissura está em fazer da minha coleção um testemunho da felicidade possível dentro do contexto do semi-árido. É a felicidade, simples e óbvia, o meu foco. E se você acha impossível ver a felicidade, sinta! Já é o bastante!
Passei uma temporada em Teresina-PI, onde conclui minha primeira graduação, em história. Lá a chuva mete medo. Os trovões não dialogam, guerreiam! E corisco não perdoa! E quando voltei a Pio IX, no início da década de 90, subitamente percebi que os espaços geográficos, os biomas, os ecossistemas, seja lá qual for o nome que denomina o lugar onde vivemos, além das análises cientificamente geográficas, históricas, biológicas etc, devem ser descritos e/ou compreendidos dentro de uma responsável contextualização, sem descartar sua imensa subjetividade.
E foi imbuída do impacto dessa subjetividade, que eu passei a fotografar minha terra.
Não tenho, até hoje, nenhuma pretensão em vender ilusões, nem tão pouco de expor um quadro ‘real’, do que é o meu lugar, sob a pretensão dos estudos da pesquisa científica. Apenas sinto que esta é a terra que é minha, e a interpreto multifocalmente, e tanto quanto possível, apaixonadamente!!!


9 comentários:

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  2. É belíssima a harmonia entre vc e a sua arte. A natureza, certamente, agradece essa sua paixão desenfreada...Por outra ótica, que bom, que agora ela está aí, exposta aos nossos olhos, pra gente poder admirá-la. Fico realmente feliz pela sensibilidade e pela interpretação das facetas da natureza...Parabéns! Bjs! Julinete

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  3. Fico radiante ao visitar seu blog...em cada imagem, em cada poema soa como musica que me embala na contagiante alegria de ver nossa terra tão bem retratada.Parabéns pelo seu trabalho que tanto nos sensibiliza mostrando nossa terra num angulo mais pleno em harmonia.

    Abraços!

    Edilene Araújo.

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  4. Interessante sua história de amor pelo sertão, pela caatinga, por Pio IX. Gostaria de saber se você atua na área da educação e se você consegue lever esse trabalho que você faz no blog para o contexto da sala de aula. É muito legal esse trabalho. Parabéns... Elmo Lima
    http://educacaonosemiarido.blogspot.com

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  5. Julinete, Edilene, Elmo,
    Obrigada pela visita e pelo incentivo. Pois é, acho que valeu a pena publicar minha coleção de figurinhas, principalmente pela sensação compartilhada com vocês. Elomo, minha vida é a Educação, foi onde vi despertados meus melhores sentimentos. Minha sala de aula sempre é palco para as coisas do cotidiano, da cultura, da aldeia onde está inserida a escola, seja lá onde eu esteja. Quando saio da sala de aula, pra função de gestora, aí mudo a estratégia, mas crio constantes situações de envolvimento da comunidade escolar com essa temática, seja com exposições, oficinas, etc. Agora mesmo estou coordenando cursos de graduação, por exemplo, de química e espanhol, e não tive nenhuma dificuldade em contextualizar as disciplinas com o mundo das farinhadas, da agricultura familiar, das danças folclóricas, e assim envolver um grande número da população em torno da valorização da identidade local.
    Bom saber que posso contar com vocês!
    Grande Abraço.
    Rosa

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  6. O barro do manel nos enlameia. Tu sabes do meu receio a tudo aquilo que se rotula ou se aproxima do erudito. Há muito, os trabalhos de pesquisa científica me cansam, a imposição de tantas normas embaraça a criação. Em seu trabalho a arte pulsa sem astúcias intelectuais, "a vida saltiteia pra todo rumo". Parabéns. Jota

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  7. Jotinha, poeta do mato, sertanejo dos mais puros, daqueles que a cidade grande aprisiona, mas a alma não se deixa macular. Somos feito do mesmo barro, eu e tu. Confissão: Parte de mim, lamenta a tua falta nas bancas dos intelectuais. É como se o melhor do conhecimento ficasse escondido nas tuas linhas, escritas com mais sentimento e menos vaidade (própria do mundinho acadêmico com o qual convivemos, nas beiras).
    E, Viva a Sociedade Alternativa!

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  8. Ainda não conhecia esse seu dom de buscar na natureza detalhes que fazem parte do nosso cotidiano e que nem ao menos nos damos conta da beleza e riqueza a nossa volta. Está bem ali, do nosso lado e não nos damos tempo para observá-las. Obrigado por nos mostrar coisas que as perturbações do dia-dia não nos permitem enxergar. Parabéns pelo seu trabalho!

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  9. Sensacional seu trabalho. Estou aqui babando com a sensibilidade e maestria com que você lida com o simples, com a caatinga. Parabéns! Também sou admiradora da natureza e da fotografia, mas por enquanto, amadora.

    Um abraço!

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